Já todos ouvimos dizer que somos aquilo que comemos. Mas e se lhe dissessem que alguns nutrientes são capazes não só de melhorar a saúde física, mas também de reduzir comportamentos agressivos? Parece inesperado, mas é exatamente isso que sugere uma recente meta-análise científica liderada pelo neurocriminologista Adrian Raine, da Universidade da Pensilvânia, publicada na revista científica Aggression and Violent Behavior. Os resultados são claros: a suplementação regular com ácidos gordos ómega-3 consegue reduzir significativamente a agressividade violenta em indivíduos de diferentes idades e contextos. Mas como é que isto acontece exatamente?
O poder dos ómega-3 no cérebro
Os ácidos gordos ómega-3 têm um papel crucial no bom funcionamento cerebral. Diversos estudos, ao longo dos anos, têm demonstrado que uma nutrição deficiente pode levar a problemas de comportamento, incluindo agressividade e violência, precisamente porque afeta negativamente a química cerebral. Adrian Raine tem-se dedicado a estudar a ligação entre nutrição, cérebro e comportamento agressivo. Após publicar vários ensaios clínicos em diferentes países, Raine decidiu avaliar um conjunto mais amplo de estudos realizados em 19 laboratórios independentes, com quase quatro mil participantes. O resultado foi surpreendente: suplementar com ómega-3 está associado a uma redução de cerca de 30% nos níveis de agressividade em pouco tempo, independentemente da idade, género ou contexto.
Redução da agressividade: reativa e planeada
O estudo liderado por Raine mostrou que a suplementação de ómega-3 reduz tanto a agressividade reativa (provocada por uma situação específica) quanto a agressividade proativa (premeditada ou planeada). Isto é particularmente relevante porque mostra que os ómega-3 podem ter um impacto transversal, ajudando não apenas quem reage impulsivamente, mas também quem planeia ou apresenta comportamentos agressivos mais complexos.
E como funciona exatamente o ómega-3?
Embora ainda não existam respostas definitivas, os investigadores suspeitam que os ómega-3 melhoram o funcionamento do córtex pré-frontal do cérebro, região responsável pelo autocontrolo, tomada de decisões e gestão emocional. Além disso, estes ácidos gordos parecem reduzir inflamações que podem afetar negativamente o comportamento cerebral.
A investigação sugere que a suplementação de ómega-3 pode ser especialmente benéfica quando utilizada como complemento de outros tratamentos já estabelecidos, tais como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou mesmo tratamentos farmacológicos.
Fontes vegetais de ómega-3: boas notícias para vegetarianos e veganos
Se está preocupado por não consumir peixe, não se preocupe. Existem excelentes fontes vegetais de ómega-3, perfeitas para vegetarianos ou veganos que desejam aproveitar estes benefícios:
- Sementes de linhaça: uma das melhores fontes vegetais, que podem ser facilmente incorporadas em iogurtes, saladas ou batidos.
- Sementes de chia: ricas em ómega-3, fibras e proteínas, ideais para pudins e pequenos-almoços saudáveis.
- Nozes: um snack fácil e nutritivo, repleto de ácidos gordos essenciais.
- Óleo de linhaça ou óleo de algas marinhas: alternativas práticas e altamente concentradas para quem procura uma suplementação de origem vegetal.
Embora o peixe seja tradicionalmente associado ao ómega-3, estas opções vegetais são igualmente eficazes, desde que integradas regularmente numa alimentação equilibrada.
Implicações práticas: nutrição para uma sociedade mais calma
De acordo com Adrian Raine, está na altura de considerar seriamente a suplementação com ómega-3 para reduzir a agressividade, não apenas em contextos clínicos ou familiares, mas também a nível comunitário ou mesmo no sistema judicial. “O ómega-3 não é uma solução mágica que eliminará totalmente a violência, mas pode ser um complemento poderoso”, defende Raine. Além disso, a suplementação com ómega-3 é segura, económica e ainda proporciona benefícios adicionais ao nível cardiovascular e na redução da hipertensão.
A curto prazo, os efeitos são claros. Contudo, o próximo passo da investigação será determinar se estes benefícios se mantêm também a longo prazo.
O que pode fazer agora?
Quer pretenda reduzir comportamentos agressivos em crianças e adolescentes ou simplesmente otimizar o funcionamento cerebral, integrar fontes regulares de ómega-3 na sua dieta ou utilizar suplementação específica poderá ajudar muito. Em combinação com outras estratégias, como uma alimentação equilibrada, exercício regular e técnicas de gestão de stress, a suplementação com ómega-3 apresenta-se como uma solução científica promissora e de fácil aplicação no quotidiano. Afinal, a solução para um comportamento mais calmo pode estar mesmo naquilo que colocamos no prato.
Referências:
- Raine, Adrian & Brodrick, Lia (2024). Omega-3 supplementation and aggression: A meta-analysis. Aggression and Violent Behavior.
- Penn Today (2024). “The case for omega-3 supplementation to lower aggression”, Universidade da Pensilvânia.
- Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Human Development (R01HD087485).