Quando a queda de cabelo se torna mais intensa do que o normal, o primeiro impulso pode ser recorrer aos cosméticos. Mas e se a verdadeira solução estiver… no interior do corpo? Num mundo em que a aparência ganha cada vez mais destaque, a saúde capilar tornou-se uma prioridade para muitas pessoas. Contudo, apesar do investimento crescente em champôs fortalecedores, máscaras e séruns milagrosos, há uma realidade que permanece muitas vezes negligenciada: o cabelo é, antes de tudo, um reflexo do equilíbrio interno — especialmente no que toca à nutrição e aos níveis vitamínicos.
Vitamina D: a estrela silenciosa da saúde capilar
Já todos ouvimos falar da vitamina D como essencial para os ossos e para o sistema imunitário. Mas sabia que este nutriente — tecnicamente uma pré-hormona — também tem um papel central no ciclo de crescimento dos cabelos?
Os folículos capilares possuem recetores específicos para a vitamina D. Quando os níveis estão baixos, esses recetores não são devidamente activados, o que pode levar à interrupção da fase de crescimento (anagénese), favorecendo a queda e a miniaturização dos fios.
Estudos recentes, como o publicado no International Journal of Trichology (2023), demonstraram que 83% dos pacientes com alopecia areata apresentavam deficiência desta vitamina. Outro ensaio clínico conduzido na Índia revelou que, após três meses de suplementação adequada de vitamina D, houve uma redução significativa na queda dos fios em pacientes com défice diagnosticado.
Deficiência silenciosa e generalizada
Apesar de ser produzida pela pele em resposta à exposição solar, estima-se que mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo tenham níveis insuficientes de vitamina D. Mesmo em países ensolarados, como Portugal ou o Brasil, o estilo de vida moderno — passado maioritariamente em ambientes fechados, com uso excessivo de protector solar — compromete a síntese natural deste nutriente.
Além da queda capilar, sintomas como fadiga crónica, baixa imunidade, dores musculares, fragilidade óssea e alterações de humor podem também ser sinais de alerta.
Mais do que vitamina D: os aliados naturais do cabelo
Embora a vitamina D ocupe um lugar de destaque, ela não actua sozinha. A saúde do cabelo depende de um conjunto equilibrado de micronutrientes. Eis os suplementos naturais mais estudados e recomendados:
1. Biotina (Vitamina B7)
Conhecida por fortalecer o cabelo e as unhas, a biotina é fundamental para a produção de queratina. Baixos níveis estão associados a cabelos quebradiços e finos. Apesar de rara, a deficiência pode ocorrer em dietas restritivas ou devido ao uso prolongado de antibióticos.
2. Zinco
Este mineral participa activamente na divisão celular e na reparação dos tecidos, incluindo o couro cabeludo. Estudos demonstram que pessoas com alopecia geralmente apresentam níveis de zinco mais baixos do que o normal.
3. Ferro
A carência de ferro, mesmo sem causar anemia clínica, é uma das causas mais frequentes de eflúvio telogénico — queda difusa de cabelo. Mulheres em idade fértil são particularmente vulneráveis.
4. Silício Orgânico
Este oligoelemento favorece a síntese de colagénio e elastina, dando estrutura e resistência aos fios. A sua suplementação está associada a um aumento da densidade e do brilho do cabelo.
5. Vitaminas do Complexo B
Vitaminas como a B12, B6 e B3 actuam no metabolismo celular e na oxigenação dos tecidos. A deficiência, particularmente da B12, está ligada a cabelos opacos e a queda progressiva.
Atenção à suplementação: individualizar é a chave
É tentador procurar soluções rápidas e universais, mas a verdade é que a suplementação deve ser sempre adaptada ao perfil bioquímico de cada pessoa. Tomar vitamina D ou ferro sem necessidade pode trazer mais riscos do que benefícios, como toxicidade ou alterações metabólicas.
Os profissionais de saúde recomendam a realização de análises laboratoriais antes de iniciar qualquer suplemento, mesmo que “natural”. A avaliação deve incluir vitamina D, ferritina, zinco, vitamina B12, entre outros parâmetros relevantes.
Exposição solar: o suplemento mais acessível
Não é necessário viver na praia para manter bons níveis de vitamina D. Cerca de 15 a 20 minutos diários ao sol — com braços e pernas descobertos, antes das 10h ou após as 16h — podem ser suficientes para repor os níveis. Idealmente, sem protector solar nesse curto período, para garantir a produção cutânea do nutriente.
Conclusão: cabelo forte começa dentro de si
A saúde capilar é multifatorial, mas cada vez mais a ciência comprova que o estado nutricional está no centro das atenções. Antes de gastar fortunas em cosméticos ou tratamentos invasivos, talvez seja hora de olhar para o que falta… no seu sangue.
Com a orientação certa e atenção ao que o corpo revela, é possível não só parar a queda como estimular o crescimento de fios mais fortes, brilhantes e saudáveis.
Fontes científicas consultadas
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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5613744/ -
Chaitanya, P. et al. (2023). Serum Vitamin D Levels and Alopecia Areata: A Case–Control Study. International Journal of Trichology.
https://www.ijtrichology.com/article.asp?issn=0974-7753;year=2023;volume=15;issue=1;spage=11;epage=16 -
Almohanna, H. M. et al. (2019). The Role of Vitamins and Minerals in Hair Loss: A Review. Dermatology and Therapy.
https://link.springer.com/article/10.1007/s13555-018-0278-6 -
Trüeb, R. M. (2009). Oxidative stress in ageing of hair. International Journal of Trichology.
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Bhat, Y. J. et al. (2024). Vitamin D Supplementation in Androgenetic Alopecia: A Randomised Controlled Trial. Journal of Cosmetic Dermatology.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jocd.15739