Produtos biológicos continuam melhores para a saúde e o ambiente — mas o preço está a afastar muitos consumidores. Nos últimos anos, por toda a Europa o consumo de produtos biológicos deixou de ser uma excentricidade e tornou-se um símbolo de escolhas conscientes, tanto para a saúde como para o planeta. No entanto, uma realidade incómoda começa a ganhar terreno nos carrinhos de compras: o preço. Por muito que os consumidores valorizem os benefícios dos alimentos bio, a diferença de custo face aos produtos convencionais está a tornar essas escolhas cada vez mais difíceis — e, em muitos casos, inacessíveis.
70% mais caro: uma escolha que dói no orçamento
Segundo um estudo da DECO PROTESTE publicado em 2023, uma dieta mediterrânica exclusivamente biológica pode custar mais 71% do que a mesma composta por produtos convencionais. A pesquisa, realizada com base num cabaz de 52 alimentos essenciais, revela que os consumidores podem gastar facilmente mais de 280 euros por mês com produtos bio — mais 118 euros do que num cabaz equivalente não biológico.
A couve-flor e os brócolos são exemplos emblemáticos: podem custar mais do dobro, chegando a pesar 5 euros por quilo a mais na conta final. E entre as leguminosas, destaca-se o feijão-frade biológico, que pode ser quatro vezes mais caro do que o convencional.
A que se deve esta diferença?
A agricultura biológica segue regras rigorosas: está proibido o uso de pesticidas químicos, fertilizantes sintéticos e organismos geneticamente modificados. Exige-se a rotação de culturas e, na pecuária, os animais devem viver ao ar livre e alimentar-se exclusivamente com produtos biológicos. Estes princípios resultam numa produção mais sustentável e benéfica para os ecossistemas — mas também menos intensiva e mais vulnerável a doenças e pragas, o que encarece o processo.
Além disso, o marketing do “saudável” e a crescente procura por alimentos bio contribuem para uma valorização que, por vezes, ultrapassa o que seria razoável.
Há alternativas mais acessíveis?
Nem tudo são más notícias. A análise da DECO revela que em alguns produtos a diferença de preço entre versões bio e convencionais é mínima. A abóbora, por exemplo, custa apenas mais 6 cêntimos por quilo na versão biológica. No campo dos produtos processados, uma cápsula de café biológico da marca L’OR custa apenas mais 3 cêntimos do que a convencional.
As marcas próprias dos supermercados têm também contribuído para tornar os biológicos mais acessíveis: nesta categoria, os produtos bio podem ser até 69% mais baratos do que os de marcas de fabricante. Além disso, as lojas especializadas em produtos biológicos, muitas vezes esquecidas, praticam preços até 25% mais baixos em frescos como frutas, legumes e ovos.
Como fazer escolhas conscientes — sem arruinar o orçamento?
A resposta está na informação, na sazonalidade e na estratégia. Sempre que possível:
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Comprar alimentos da época: são naturalmente mais baratos e mais nutritivos;
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Escolher produtos biológicos onde a diferença de preço é menor, como leguminosas secas ou vegetais básicos como a abóbora;
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Visitar lojas bio especializadas: ao contrário do que se pensa, são muitas vezes mais económicas do que os hipermercados;
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Optar por marcas de distribuidor: tendem a oferecer boa qualidade a preços mais justos;
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Cultivar em casa (quando possível): mesmo um pequeno vaso com aromáticas ou alfaces pode ajudar a reduzir gastos e aumentar o controlo sobre a qualidade do que se consome.
O paradoxo do consumidor consciente
A crescente diferenciação entre o preço dos alimentos biológicos e convencionais levanta uma questão ética e política: será justo que escolhas sustentáveis, saudáveis e ambientalmente responsáveis fiquem fora do alcance de tantas famílias?
Enquanto se espera por apoios públicos mais robustos à produção biológica — e por políticas que incentivem a verdadeira democratização do acesso a alimentos de qualidade — o consumidor continua a fazer equilibrismos entre a carteira e a consciência. E, se é certo que o bio custa mais, também é certo que o barato, muitas vezes, sai caro para o corpo e para o planeta.
Fonte consultada
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Nunes, Susana Costa (2023). “Dieta biológica é 70% mais cara do que a convencional”. Revista PROTESTE.
https://www.deco.proteste.pt/alimentacao/alimentos/noticias/dieta-biologica-mais-cara