A ciência confirma: alguns suplementos naturais, como o cranberry e a moringa, podem ser aliados na prevenção e alívio das infeções urinárias — especialmente nas mulheres. Saiba como funcionam e quais os cuidados a ter.
As infeções do trato urinário (ITU) afetam milhões de pessoas todos os anos, sendo especialmente comuns em mulheres devido à anatomia do trato urinário feminino. Embora os antibióticos continuem a ser o tratamento de primeira linha, cresce o interesse por abordagens naturais complementares, como a utilização de Vaccinium macrocarpon (cranberry) e Moringa oleifera (moringa), cujos efeitos vêm sendo investigados por estudos científicos recentes.
Cranberry: o escudo natural contra as bactérias
O cranberry, também conhecido por oxicoco, é uma pequena baga vermelha originária da América do Norte e rica em proantocianidinas do tipo A (PACs-A), compostos com propriedades únicas. Estas moléculas dificultam a adesão de bactérias como a Escherichia coli (responsável por mais de 80% das ITU não complicadas) às paredes do trato urinário. Quando a bactéria não consegue fixar-se, é eliminada com maior facilidade pela urina.
Um estudo publicado no Journal of Urology demonstrou que o consumo regular de suplementos de cranberry reduziu significativamente a recorrência de ITU em mulheres com histórico da doença. Além disso, a fruta contém vitamina C, antioxidantes e compostos anti-inflamatórios que reforçam o sistema imunitário.
Como consumir cranberry de forma eficaz:
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Suplementos padronizados em cápsulas com 36 mg de PACs-A por dose diária;
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Sumo de cranberry 100% puro, sem adição de açúcares (idealmente 240 mL por dia);
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Cranberries secos ou frescos, como snack ou misturados em iogurtes e saladas.
Moringa: um possível aliado emergente
A moringa, conhecida por muitos como a “árvore milagrosa”, tem ganho atenção na fitoterapia devido ao seu perfil nutricional denso e às propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas. Algumas investigações laboratoriais apontam para a sua ação inibitória sobre diversos microrganismos, incluindo Candida albicans e E. coli.
Estudos preliminares em modelos animais sugerem que a moringa pode ajudar a reduzir inflamações do trato urinário e inibir o crescimento bacteriano, graças à presença de quercetina, isotiocianatos e ácido clorogénico. No entanto, a evidência em humanos ainda é limitada e requer mais investigação para que se possa recomendar o seu uso de forma ampla e segura.
Cuidados com o uso de moringa
Apesar do potencial promissor, a moringa não está aprovada para consumo em vários países — incluindo Portugal e Brasil — devido à escassez de estudos robustos que comprovem a sua eficácia e segurança. Algumas formas da planta, especialmente a raiz e a casca, contêm compostos tóxicos que podem causar efeitos adversos graves, como paralisia ou rabdomiólise.
Quem deve evitar a moringa:
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Grávidas e lactantes;
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Pessoas com problemas na tiroide;
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Indivíduos medicados com anticoagulantes, antidiabéticos ou antipiréticos.
Prevenção natural da infeção urinária: mais do que suplementos
Além do uso de suplementos naturais, há várias estratégias comprovadas para prevenir as infeções urinárias:
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Beber bastante água ao longo do dia (1,5 a 2 L);
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Urinar sempre que sentir vontade e após relações sexuais;
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Evitar produtos íntimos agressivos ou perfumados;
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Incluir probióticos (sobretudo Lactobacillus) na alimentação;
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Cortar o açúcar, o pão e alimentos processados, que favorecem o desequilíbrio da flora vaginal.
Fontes:
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